A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social levou, na definição de toda a realização humana, a uma evidente degradação do ser em ter.
A fase presente da ocupação total da vida social em busca da acumulação de resultados econômicos conduz a uma busca generalizada do ter e do parecer, de forma que todo o ´ter` efetivo perde o seu prestígio imediato e a sua função última.
Assim, toda a realidade individual se tornou social e diretamente dependente do poderio social obtido.
Somente naquilo que ela não é, lhe é permitido aparecer.
À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário.
O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que ao cabo não exprime senão o seu desejo de dormir.
O espetáculo é o guardião deste sono.
A alienação de espectador em proveito do objeto contemplado (que é o resultado da sua própria atividade inconsciente) exprime-se assim:
quanto mais ele contempla, menos vive;
quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo.
A exterioridade do espetáculo em relação ao homem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já não são seus, mas de um outro que lhos apresenta.
Eis porque o espectador não se sente em casa em parte alguma, porque o espetáculo está em toda a parte.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo, excertos.
Tradução
setembro_08